Descubra se o Design Thinking é realmente o novo PDCA. Ele representa uma inovação ou apenas uma releitura das metodologias clássicas de resolução de problemas das décadas de 80 e 90?
Introdução
Nos últimos anos, o Design Thinking deixou de ser um conceito restrito a startups para se tornar parte do vocabulário da indústria. Hoje, é aplicado em programas de melhoria contínua, projetos de inovação e até em iniciativas de gestão da qualidade e produtividade.
Mas uma pergunta vem incomodando muitos profissionais experientes: será que o Design Thinking é realmente uma revolução, ou estamos apenas reembalando as metodologias clássicas de resolução de problemas dos anos 80 e 90 com um nome mais moderno?
Afinal, se olharmos com atenção, muitos princípios — como entender o problema, gerar alternativas, testar soluções e implementar — já existiam em métodos como o PDCA, o Kepner-Tregoe ou o 8D. Então, por que essas metodologias parecem ter sido “aposentadas”, enquanto o Design Thinking virou a queridinha da transformação digital?
É sobre isso que vamos falar neste artigo. E talvez, ao final, você descubra que o Design Thinking e as metodologias clássicas não são rivais — e sim, complementares.

De onde viemos: a era da eficiência
Para entender essa mudança, precisamos voltar no tempo.
Durante as décadas de 1980 e 1990, o foco das organizações era eficiência, qualidade e controle. O grande desafio era eliminar erros, reduzir custos e garantir que tudo funcionasse conforme o planejado.
Modelos como PDCA, Six Sigma e Kepner-Tregoe eram perfeitos para isso. Eles seguiam uma lógica estruturada e racional: definir o problema, analisar causas, implementar soluções e padronizar o processo.
Esses métodos foram fundamentais para empresas da indústria automobilística, de máquinas e equipamentos e de manufatura. Eles ajudaram a criar o padrão de qualidade que hoje consideramos básico. O artigo “What Is Six Sigma?” da ASQ – American Society for Quality explica bem essa lógica orientada à padronização e melhoria contínua.
Mas o mundo mudou. E rápido.
Onde estamos: o desafio da complexidade
Agora o contexto é de mudança constante, automação, dados em tempo real e necessidade de inovação contínua.
Produtos, serviços e experiência do cliente estão conectados digitalmente. A digitalização e as mudanças no comportamento do consumidor colocaram as empresas diante de desafios que não têm respostas prontas.
Nesse cenário, os métodos tradicionais começaram a mostrar limites. Eles funcionam muito bem para problemas estruturados, mas travam diante de problemas abertos e ambíguos, como:
- Como reinventar a experiência do cliente em um mundo digital?
- Como criar um modelo de negócio sustentável e escalável?
- Como aumentar engajamento e colaboração em times híbridos?
Essas perguntas não têm um único caminho lógico. Elas exigem experimentação, empatia e co-criação — e é aí que o Design Thinking ganha espaço.
O artigo da IDEO sobre O que é Design Thinking explica como a abordagem ajuda a lidar com incertezas e criar inovação centrada nas pessoas.
O Design Thinking e sua proposta
Design Thinking: inovação ou PDCA de roupa nova?
Para responder essa pergunta é importante reconhecer que ele surge como uma abordagem que combina pensamento criativo e racionalidade prática. Seu objetivo é entender profundamente as pessoas, gerar ideias, prototipar soluções e aprender com os erros — rápido.
As etapas mais conhecidas são:
- Empatia – compreender o contexto e as dores do usuário.
- Definição do problema – traduzir percepções em um desafio claro.
- Ideação – gerar o maior número possível de ideias, sem julgamentos.
- Prototipagem – transformar ideias em versões testáveis.
- Teste – validar com o usuário e ajustar rapidamente.
Perceba: o Design Thinking não substitui o raciocínio analítico. Ele acrescenta uma camada de experimentação e empatia que faltava nos métodos clássicos.
O que o Design Thinking aprendeu com o passado
Se olharmos friamente, o Design Thinking não é um rompimento — é uma evolução.
Ele mantém o DNA das metodologias clássicas, mas o adapta à nova realidade digital.
Vamos comparar:

Em outras palavras, o Design Thinking é a continuação natural da gestão da qualidade — mas agora voltada para a inovação e o ser humano.
E o papel da transformação digital nisso tudo?
A transformação digital não é apenas sobre tecnologia — é sobre reimaginar o modo como as empresas criam valor.
Ela trouxe três mudanças fundamentais:
- Velocidade – decisões precisam ser tomadas em ciclos curtos.
- Cocriação – inovação acontece em rede, com clientes e parceiros.
- Cultura experimental – errar rápido é melhor do que planejar devagar.
Esses três pontos são a essência do Design Thinking, mas também poderiam estar em qualquer manual moderno de gestão de qualidade.
A diferença é que agora eles estão reembalados com linguagem e estética mais inspiradoras — e isso importa muito.
A “moda corporativa” existe — e tem seu papel
Sim, há um componente de moda corporativa e só o tempo dirá se ela veio para ficar. O Design Thinking soa moderno, visual e colaborativo. Enquanto isso, nomes como PDCA ou Kepner-Tregoe soam “quadrados” e técnicos — mesmo sendo extremamente eficazes.
As empresas também se movem por símbolos: adotar o Design Thinking comunica ao mercado que a organização é inovadora, digital e centrada no cliente.
E convenhamos, isso é um ótimo marketing interno e externo.
Mas é importante não cair na armadilha de transformar o Design Thinking em um ritual vazio de post-its coloridos.
A essência da metodologia está na mudança de mentalidade, não nas ferramentas.
Qual usar, afinal?
A resposta é simples — e poderosa: depende do tipo de problema.

O verdadeiro diferencial competitivo está em saber transitar entre as abordagens, usando a lógica analítica quando necessário, e a empatia criativa quando o contexto exige.
Nem ruptura, nem moda — uma evolução
Para concluir, a impressão de que o Design Thinking “aposentou” as metodologias clássicas é, na verdade, um reflexo do nosso tempo.
Vivemos uma era em que a inovação precisa ser rápida, humana e visual. Mas os fundamentos da boa análise de problemas — entender causas, testar hipóteses, medir resultados — continuam sendo os mesmos.
O que mudou foi a linguagem e o propósito:
- Antes, buscávamos eficiência e controle.
- Hoje, buscamos inovação e adaptação.
Portanto, o Design Thinking não substitui o que veio antes — ele se apoia sobre o passado para reinventar o presente. E talvez esse seja o verdadeiro sentido da transformação digital: aprender, desaprender e reaprender continuamente.
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